domingo, 7 de setembro de 2014

A CADEIRA COLORIDA


A vida tem sido uma loucura com tanta coisa para resolver e o tempo passando tão rápido. Quando percebo a semana que começou já está no final, os dias voam e quando penso em parar já passa da meia-noite, já é uma 1h da manhã, já são 2h da manhã, já são 3h da manhã...e não é exagero.
A parte boa é que fiz a mudança para o meu cantinho novo para trabalhar e apesar dos problemas das goteiras, da varanda virar um piscinão quando chove e outros probleminhas mais, esse cantinho faz o meu coração bater mais feliz!
Ainda não está arrumado e organizado, nem está com a minha carinha mas ainda vai ficar. Eu sou do tipo que acredita em sonhos e do tipo que acha que as pessoas vão aparecendo nas nossas vidas conforme esses sonhos, conforme os ideais e é isso que faz com que seja concretizado.
Mas ainda explicando o motivo do meu sumiço, além das mil coisas para resolver, da mudança, ainda tem uma cadeira que consegui entregar e estava comigo há quase três meses. Sim, foi todo esse tempo!!! Mas não pense que eu fiz corpo mole, tipo papo furado de marceneiro que jura que vai entregar o seu móvel em quinze dias e com 45 dias ele já teve uma urgência no hospital por causa de um mal estar, teve um corte profundo na mão ( mas que foi tão bem tratado que nem cicatriz deixou), levou a esposa para fazer exames a semana toda, teve o aniversário da sogra, participou de uns 3 enterros  de familiares (inclusive o da sogra) , 2 enterros de melhores amigos e por aí vai...                                
Os meus três meses foram sinceros e teve muita dedicação.
 A encomenda era de uma pessoa especial e me pediu com muito carinho, pois sabia que se tratava de uma cadeira de qualidade duvidosa e foi adquirida no apartamento recém alugado. 
Esse simpático casal de alma festeira em que tudo na casa deles é motivo para ser comemorado, não queria jogar a cadeira fora antes de tentar uma chance de reaproveita-la, a dona mesmo da cadeira que mora no exterior já havia liberado para que fosse jogada fora.
Seria um desafio eu já sabia, seria trabalhoso tinha certeza. Aquele brilho intenso de camada grossa prometia pedir muita lixa.
Lixa ??????Que lixa?????
A lixa nem arranhava a cadeira!!! Tenta daqui, tenta dali, diminui o número da lixa, usa a lixadeira e... nada, talvez a cadeira estivesse ficando um pouco mais opaca, mas sair mesmo aquele verniz espesso nem pensar. Parecia uma laca, mas era mais forte. Por baixo desse verniz grosso, uma outra camada cinza e ainda, uma terceira camada bem generosa de massa. Já sem as digitais,  sem as unhas, apelando para solventes, paguei diária a um moço que faz obra lá no prédio para me ajudar e vários dias depois, chegamos na madeira.
Para minha maior surpresa, a cadeira estava toda remendada, na verdade ela estava toda pregada e com madeiras diferentes e em  algumas partes muita porosidade.
 Pulando para a parte de quando comecei a pintar com a tinta látex branca, cada parte da cadeira manchava com uma cor diferente, a madeira sugava toda a tinta e ainda ficava um aspecto meio espetado, sem o toque macio.
 Lixa mais um pouco, outra demão de látex e o problema voltava. Como o tempo não estava ajudando muito, com chuva e frio até pensei que isso poderia estar interferindo e dei uma pausa. Essa era a hora de ter ligado para a cliente e ter falado abertamente o que estava acontecendo e concluir com a verdade, a pintura não teria como ficar boa por todos os motivos citados e blábláblá...
Dei continuidade e julguei que a cadeira estava pronta para receber a tinta colorida, fiz como normalmente faço, escolhi a tinta esmalte a base de água, dei o tom que eu queria em um amarelo mais forte e lá vem a outra parte do meu desespero. A tinta esmalte também não me dava o resultado esperado. Lixa de novo, pinta de novo. Nada de bom acontece!
Troca os pinceis, rolinhos, a tinta... nada de bom...
A essa altura a pessoa aqui já tinha tido a primeira crise de choro!!! E foram três até o término da cadeira!!!
Agora vou voltar para a parte em que comentei que a dona da cadeira já havia autorizado o lixão como novo endereço da cadeira ( esse é outro assunto aqui para o blog, sabia que o Rio de Janeiro ainda tem lixões??????? ) e foi aí que eu me dei conta do tamanho da minha responsabilidade, porque a pobre cadeira de qualidade duvidosa poderia realmente ir para a caçamba e da caçamba, lixão! E querem saber de uma coisa, as pessoas até pegam o móvel de madeira boa nas caçambas, mas se não for boa, ninguém quer não!!! Tenho visto isso até nos caixotes , aqueles  bacanas mais robustos, aqueles que davam sopa nas feiras, nos postes, agora tem cotação, preço de mercado e tudo mais, são disputadíssimos, não está fácil conseguir um desses.  Voltando a cadeira, eu sempre preciso voltar ao assunto, porque me empolgo e já dou sequencia em outro assunto... mas sim, a cadeira: Saí da tinta esmalte que evidenciava os defeitos e parti para outra tinta ... nada bom de novo, não gostei do resultado mas senti que o caminho era esse, estava cobrindo melhor. Pintei a primeira , a segunda demão, a terceira... e a cadeira sedenta de tinta, sugava tudo deixando um aspecto bem ruim no acabamento.
Troquei de marca de tinta, até melhorou um pouco o resultado mas ainda não estava bom. Lixa de novo mais um pouco, troca pinceis, rolinhos, a tinta...
E... opa... o aspecto estava bem melhor, ainda manchava um pouco mas estava ficando com uma outra carinha, então para disfarçar um pouco mais as imperfeiçoes, resolvi inovar e pintar a cadeira com cores diferentes, vai que desse certo e as pessoas conseguissem olhar mais para todas aquelas cores, do que para as imperfeiçoes.
E trabalhar nessa cadeira me fez reavaliar o meu conceito sobre repaginação de móvel, eu costumava dizer que não existe móvel velho... agora eu posso dizer , não existe móvel velho ou móvel ruim...
Decoração Sustentável também é isso, é reaproveitar o que já temos , é interceptar aquela pessoa que ainda está meio mal informado e que ainda joga fora sem nenhum critério de avaliação o quanto isso prejudica o meio ambiente, tanto o descarte quanto o consumo desnecessário e desenfreado. E foi isso que fez o  casal simpático e de alma festeira que tem além da alegria de viver, consciência sustentável !
Espero que eles tenham uma vida ainda mais colorida com a chegada da cadeira.




 






                                                 Era assim...
 



 
Alguns detalhes que gostaria de colocar aqui, em todo o processo da cadeira eu sempre usei material de qualidade e de marcas conceituadas, o resultado pouco agradável era resultado da qualidade da madeira, até que na terceira marca "houve um entrosamento melhor", digamos assim.
Eu já consegui pintar móvel tipo "daquela casa que vende muito", sabe qual é?E ficou bem legal!
Essa cadeira realmente me deu bastante trabalho mas houve muito amor e dedicação nessa repaginação, ainda me deu a oportunidade de unir a madeira, duas coisas que adoro: tecido e aviamento.




Espero que vocês tenham gostado da ideia e acreditado que vale a pena dar uma chance e vida nova e que , não existe móvel velho ou ruim!!!

Bjs, até a próxima!