Eu sempre gostei de trabalho artesanal, quando era bem mais jovem (bemmm mais) eu já colecionava tudo o que encontrava nas revistas (e era revista mesmo, não tinha internet não) recortava e guardava em uma pastinha de papelão. Ali permaneceu por anos, eram recortes, moldes, imagens... eu acreditava que um dia eu teria uma lojinha e venderia tudo aquilo.
A vida vai dando as coordenadas e com isso minha pastinha foi parar no fundo de uma gaveta. Assim passei a lembrar da minha pastinha uma vez ao ano.
Sabe aquelas arrumações de fim de ano? Ano após ano lá estava a minha pastinha, amarelada pelo tempo mas eu ainda acreditava e pensava que um dia...ainda teria a minha lojinha e conseguiria fazer o que mais amava, trabalho artesanal.
Pensava, suspirava e voltava com a pastinha para a gaveta. Só isso, pensava mas não agia, não fazia nada para mudar.
Me acostumei a ter o trabalho que não gostava e nem entendia que na verdade
o difícil é sair da zona de conforto. E nem era o melhor emprego do mundo, muito pelo contrário, era uma rotina pesada e estressante. O problema é que criamos tantas desculpas para não mudar, para não deixar acontecer, que mesmo querendo muito uma determinada coisa, a sabotagem que fazemos inconscientemente apaga qualquer vontade de correr atrás dos nossos sonhos.
Um dia numa dessas arrumações de fim de ano em que nos desfazemos do que “já não nos serve mais”, encontrei a tal pastinha, revi todos aqueles recortes ,moldes, ideias ... e tomei uma decisão:Joguei fora! Aproveitei a limpeza e joguei as revistas também!
Afinal, por qual motivo guardar uma pastinha e revistas por mais de vinte anos se jamais faria aquilo tudo? E afinal,vamos desocupar o espaço, né gente????
Pois é... nem tanto.
Abri o espaço na gaveta mas abri outros espaços também, o espaço do arrependimento de não ter tentado, de não ter acreditado, não ter investido. O espaço de ter me conformado de não correr atrás do meu sonho.
Gosto tanto de um trabalho artesanal, que sou do tipo que fica encantada vendo uma receita de brigadeiro , um pão, uma almofada, uma encadernação, um fuxico, um móvel pintado... admiro quem faz, para mim são anjos que vieram para trazer beleza.
E assim, sem a minha pastinha e longe do meu sonho, a vida foi seguindo.
Porém...
Quis a vida , que de alguma forma a pastinha nunca fosse totalmente esquecida,
Quis a vida me mostrar em uma fase boa que eu poderia tentar mudar, fazer aquilo que mais gostava e eu não mudei...
Quis a vida então, que eu entendesse o recado e em uma fase bem conturbada, com muitos problemas, as razões começaram a brotar para que eu me interessasse pelo assunto novamente. A pastinha já não existia mais, mas cursos sim, internet sim, pessoas que disponibilizavam seus conhecimentos também... e aí acompanhando sites, blogs, fazendo aulas presenciais... quando dei conta, já estava tão envolvida que foi impossível não tentar deixar acontecer, não tentar realizar. Não tinha mais a minha pastinha em mãos, mas na memória sim.
Parece que quando desejamos muito uma coisa, acontece um tipo de conspiração para que dê certo, aparecem pessoas especiais e cada uma a seu modo te colocam para frente, para caminhar. Algumas presentes , outras até pela tela do computador nem sabem o quanto estão te ajudando.
A minha lista é grande, a minha gratidão também. Nooossa tem muita gente envolvida nisso, nem dá para colocar nomes aqui, mas tenho um enorme sentimento de gratidão.
Dei o meu primeiro passo, ainda não tenho a lojinha que tanto sonhei, mas já tenho a certeza do que realmente quero para mim. Consegui ter um cantinho para trabalhar, já estou produzindo algumas peças, já não penso mais no tempo perdido e estou procurando olhar para frente. Óbvio que estou tendo que driblar os obstáculos (que são muitos) mas estou segura do que quero.
Amo o trabalho artesanal, amo quem faz pelas próprias mãos... amo ser uma catadora de material que pode ser reaproveitado, amo quando me confiam um móvel para ser repaginado, amo quando me telefonam para dizer que tem uma caçamba ou um poste com um caixote, pallet, janela... e que pensou em mim.
Para quem faz algum tipo de trabalho artesanal , seja pintando, reutilizando material, costurando, bordando, cozinhando e tantas outras atividades, não vamos desistir não gente, vamos dar um passo a frente ,vamos mostrar o nosso trabalho, vamos incentivar a valorização do artesanal, além de ser mais bonito, mais criativo ainda colabora com uma vida mais sustentável, de olho no amanhã.
Se você não faz, valoriza de quem faz. O nosso planeta está gritando por socorro e diminuir o consumo industrial é uma forma de colaborar.
Para quem tem vontade de fazer, vai lá e faz. Acredita e faz. Seja para uso próprio, para dar de presente, para gerar renda, o seu trabalho é que faz a vida ficar mais bonita e cheia de encanto, a sua e a de quem tem a sorte de ter uma peça sua que é exclusiva e com toda certeza, feita com dedicação e muito amor.
Vamos acreditar e realizar!
E um outro cantinho do atelier já pronto, móvel que foi retirado do lixo, reaproveitado e forrado com tecido. A tela foi feita em uma aula de uma pessoa muito querida a quem serei sempre grata.
Ainda tem a página no face que é o lugar para as suas, as minhas, as nossas ideias, dá uma passadinha lá: MIL925 ATELIER
